Um estudo publicado na revista científica Plos One e liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela um aumento de 69% nas mortes maternas no Brasil durante os dois primeiros anos da pandemia de Covid-19. O impacto foi especialmente grave no segundo ano, com um aumento de 100% nas mortes maternas em comparação com o período pré-pandemia.
Desigualdade regional e impacto por faixa etária
O estudo, que analisou dados oficiais do Ministério da Saúde, mostra que as regiões Nordeste e Norte foram as mais afetadas no primeiro ano da pandemia, com 55% e 56% de aumento nas mortes maternas, respectivamente. Já no segundo ano, o impacto foi mais intenso nas regiões Centro-Oeste e Sul, com 123% e 203% de aumento, respectivamente.
Na faixa etária de 35 a 49 anos, o aumento das mortes maternas foi ainda mais significativo, com um pico de 413% na região Sul durante o quadrimestre de março a junho de 2021.
Negligenciamento no enfrentamento da pandemia e impactos indiretos
O coordenador do estudo, Jesem Orellana, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), destaca que a negligência no enfrentamento da pandemia contribuiu para o aumento das mortes maternas. “A esta altura da pandemia, não parece razoável duvidar dos impactos diretos da Covid-19 no Brasil. No entanto, pouco se sabia sobre os efeitos indiretos da epidemia, e nosso estudo mostrou um grave impacto sobre as mortes maternas”, explica.
Orellana ressalta que o aumento das mortes maternas compromete as metas do Brasil na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. “Este estudo serve como um aprendizado sanitário e humanitário para futuras pandemias”, afirma.
Precariedade do gerenciamento da pandemia e necessidade de aperfeiçoamento das políticas públicas
O estudo também aponta para a precariedade do gerenciamento da pandemia no Brasil e a necessidade de aperfeiçoamento das políticas públicas de saúde materno-infantil, especialmente durante crises sanitárias.
“Aumentos fortes e até explosivos nas mortes maternas demonstram a necessidade de um acompanhamento mais adequado da gestação e do parto, além de políticas públicas mais robustas para proteger as mulheres durante crises sanitárias”, conclui Orellana.
Com informações da Agência Gov