A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aprovou, nesta semana, a incorporação de dois medicamentos destinados ao tratamento do lúpus no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. Com a decisão, os planos de saúde passam a ser obrigados a fornecer essas terapias a partir de 3 de novembro. A expectativa é de que aproximadamente 2 mil pacientes sejam beneficiados.
Os fármacos incluídos são o anifrolumabe e o belimumabe, indicados para o tratamento do lúpus eritematoso sistêmico em adultos que apresentam crises recorrentes da doença e mantêm sintomas mesmo após a terapia padrão. Essa é a primeira vez que medicamentos voltados exclusivamente para lúpus são inseridos na lista de cobertura obrigatória. Até então, o belimumabe já era oferecido, mas restrito a casos de nefrite lúpica, complicação renal associada à enfermidade.
Segundo o diretor-presidente da ANS, Wadih Damous, a medida representa um avanço importante. “O lúpus é uma condição complexa e sem cura. Se existem no país medicamentos capazes de controlar a doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, é fundamental que estejam disponíveis aos consumidores”, afirmou em nota.
Reconhecimento da comunidade médica
A novidade foi celebrada pela Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), que participou das consultas públicas e reuniões que analisaram a inclusão dos remédios. Durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado em Salvador, o reumatologista Odirlei Andre Monticielo, coordenador da comissão científica de lúpus da SBR e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ressaltou a importância da decisão.
“Essas medicações têm indicação em bula para o lúpus eritematoso sistêmico e evidências científicas que comprovam benefícios, como maior controle da atividade da doença e redução no uso de glicocorticoides. Isso significa menos efeitos adversos e mais qualidade de vida”, explicou.
Monticielo destacou ainda a necessidade de ampliar o acesso também pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Agora conseguimos garantir esse recurso para quem possui convênio, mas ainda há desigualdade em relação aos pacientes atendidos somente pelo SUS”, alertou.
O presidente da SBR, José Eduardo Martinez, reforçou o impacto da medida. “Durante anos, o tratamento do lúpus ficou restrito a medicamentos antigos. A chegada de novas opções representa uma conquista significativa”, disse.
Uma doença complexa e desafiadora
O lúpus é uma doença autoimune crônica, caracterizada por inflamações que podem comprometer diferentes órgãos e tecidos. Os sintomas mais comuns incluem dores, rigidez e inchaço nas articulações, lesões na pele (principalmente após exposição solar) e fadiga. O problema atinge principalmente mulheres entre 20 e 45 anos e tem maior incidência entre pessoas negras.
Dependendo dos órgãos afetados, as manifestações podem variar de alterações cutâneas e musculoesqueléticas até quadros mais graves, como a nefrite lúpica.
A artesã Regiane Araújo Pacheco, de 40 anos, que vive em Salvador, relatou sua experiência durante o 10º Encontro Nacional de Pacientes. Desde a adolescência, ela convivia com dores intensas e dificuldade de locomoção, mas o diagnóstico de lúpus só foi confirmado em 2009. Em 2016, Regiane iniciou o tratamento com belimumabe por meio de um protocolo de pesquisa.
“O medicamento foi um divisor de águas. Antes, minha vida era marcada por dores constantes e limitações. Com ele, ganhei qualidade de vida”, contou.
A Sociedade Brasileira de Reumatologia estima que entre 150 mil e 300 mil pessoas convivam com o lúpus eritematoso sistêmico no Brasil.
Com informações da Agência Brasil