O pequeno Raywan Guajajara, de 7 anos, começa o dia lendo um trecho de seu livro favorito, O Ovo, de Ivan Zigg e Marcello Araújo: “Na fazenda, um novo dia vai nascendo com o Sol”. Para Raywan, além da leitura, estudar sua matéria preferida, matemática, também faz parte de sua rotina. Ele é um dos 94,5% de indígenas alfabetizados no Distrito Federal, que possui a segunda maior taxa de alfabetização indígena do país, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, com 95,1%.
Os números são do Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que traz informações sobre os povos originários. As escolas públicas do Distrito Federal (DF) se destacam ao incluir e valorizar a cultura indígena no currículo escolar, reflexo dos investimentos feitos pelo Governo do Distrito Federal (GDF).
Raywan frequenta a Escola Classe Vila do Regimento de Cavalaria e Guarda (RCG), onde 20 dos 176 alunos pertencem à etnia guajajara, originários do Maranhão. A professora Luana Severo, que leciona para o 2º ano do ensino fundamental, enfatiza que o desenvolvimento de cada estudante acontece em ritmos diferentes. Ela comenta que o processo de aprendizado de uma segunda língua pode ser desafiador, e os alunos precisam de tempo para se adaptar.
Atualmente, mais de 500 estudantes indígenas estão matriculados na rede pública de ensino do DF, sendo 226 nos anos iniciais e 50 na pré-escola. Na Escola Classe Vila do RCG, crianças indígenas de 4 a 13 anos de idade recebem um acompanhamento especial. O processo de alfabetização envolve a construção de vocabulário, formação de frases e elaboração de pequenos textos. Em muitos casos, os professores fazem uma conexão entre o português e o tupi, a língua nativa dos alunos.
O trabalho pedagógico foca na necessidade de comunicação básica em português, essencial para o dia a dia, mas também visa integrar o currículo escolar de forma sensível às questões culturais dos alunos indígenas. “A importância desse trabalho está na necessidade de comunicação dos estudantes, principalmente daqueles que não têm o português como primeira língua”, ressalta Luana.
Para garantir que as crianças superem as dificuldades de aprendizagem, a Escola Classe Vila do RCG oferece reforço escolar individualizado para alunos que precisam de maior atenção. Esse atendimento ocorre de uma a duas vezes por semana, com duração de uma hora, proporcionando resultados positivos, conforme relata a diretora da escola, Simone Rubim Costa de Araújo.
Além disso, a Secretaria de Educação do DF (SEEDF) disponibiliza transporte escolar para estudantes indígenas, garantindo que eles frequentem as unidades escolares mais próximas às aldeias. Outra iniciativa da SEEDF é o acolhimento de indígenas de outros países, com a criação de diretrizes pedagógicas e normativas voltadas para esse público.
Em 2023, o GDF ampliou suas ações ao criar escolas em Paranoá e São Sebastião, que atendem refugiados indígenas venezuelanos. Mais de 100 crianças dessas comunidades estão sendo alfabetizadas em unidades como a Escola Classe Café sem Troco e a Escola Classe Morro da Cruz.
Patrícia Melo, diretora de Serviços de Apoio à Aprendizagem, Direitos Humanos e Diversidade da SEEDF, destaca a importância do suporte pedagógico culturalmente sensível oferecido às escolas. Além disso, a secretaria publica anualmente o Caderno Pedagógico Abril Indígena, com orientações sobre legislação, acolhimento e sugestões pedagógicas. Segundo Patrícia, o objetivo é garantir que as crianças aprendam sem perder sua identidade cultural, valorizando tanto o letramento linguístico quanto o cultural dos estudantes indígenas e migrantes internacionais.
*Com informações Agência Brasília