A esclerose múltipla atinge principalmente pessoas com idade entre 20 e 50 anos e compromete o sistema nervoso central. Essa doença é autoimune e caracteriza-se pela desmielinização da bainha de mielina, envoltório das células nervosas (axônios) por onde passam os impulsos elétricos que controlam as funções do organismo. Com isso, há a inversão do seu papel: ao invés de proteger o sistema de defesa do indivíduo, passam a agredi-lo, produzindo inflamações.
Se não for devidamente diagnosticada e controlada, a esclerose múltipla gera sintomas físicos como déficit motor, de coordenação e da visão; e cognitivos, afetando a memória e a atenção. Entre os principais sintomas estão: fadiga; distúrbios visuais; rigidez; formigamento; fraqueza muscular; desequilíbrio; alterações sensoriais; dor; disfunção da bexiga ou do intestino; disfunção sexual; dificuldade para articular a fala; dificuldade para engolir; alterações emocionais e alterações cognitivas.
A coordenadora do ambulatório de esclerose múltipla do Hospital Universitário de Brasília (HUB), a neurologista Priscilla Mara Proveti, ressalta a importância de procurar um médico em caso de apresentar alguns destes sinais, pelo período de 24 horas ou mais. A especialista explica que existem fatores ambientais e genéticos que fazem com que o sistema imunológico comece a atacar o cérebro e causar a chamada desmielinização: “a bainha de mielina é um envoltório do neurônio, igual a um fio. O fio elétrico possui aquela capa preta, a mielina é como se fosse a capa preta do neurônio. Quando desencapa um fio, ele dá curto circuito. Da mesma forma, a mielina do neurônio é afetada”.
Neste dia 30 de agosto, data Nacional de Conscientização Sobre a Esclerose Múltipla, o objetivo maior é dar visibilidade à enfermidade alertando para a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. Dados da Associação de Pessoas com Esclerose Múltipla (Apemigos) apontam que, no Distrito Federal, 1.200 pessoas têm diagnóstico da doença. Deste total, 70% fazem tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A presidente da associação, Ana Paula Morais, ressalta que a enfermidade é a segunda maior causa de incapacidade neurológica em jovens adultos, perdendo somente para acidentes automobilísticos. “Este é um mês extremamente importante, quando nos unimos para falar da importância sobre a conscientização e os sintomas. Quanto antes as pessoas souberem, terão um diagnóstico precoce evitando sequelas graves a longo prazo”.
A fotógrafa Vanessa Alves Ciqueira, 37 anos, diagnosticada com esclerose múltipla, sentiu os primeiros sintomas em maio de 2020, após episódios de cegueira temporária, tontura, falta de equilíbrio e vômitos. “Fiquei 15 dias sem enxergar do olho direito e com o olho esquerdo turvo. Dois anos depois, tive um episódio parecido com labirintite, não consegui levantar da cama de tanta tontura. Foi um processo de seis meses do segundo sintoma até fechar o diagnóstico definitivo”. A paciente, que faz tratamento no HUB, também disse que “ao mesmo tempo que a doença é grave, é tratável. Não tenho nenhuma sequela”.
É importante destacar que fatores como predisposição genética, infecções virais pelo vírus Epstein-Barr (herpes), níveis baixos de vitamina D, tabagismo, obesidade podem funcionar como “gatilho” para o aparecimento da esclerose múltipla. Embora ainda não exista cura para a esclerose múltipla, há tratamentos medicamentosos de alta eficácia que buscam reduzir a atividade inflamatória e a ocorrência dos surtos ao longo dos anos. O Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) também realiza esse tipo de atendimento em seu centro de infusão e quatro ambulatórios para pacientes com condições neurológicas. O atendimento é realizado por neurologistas das regionais, através de regulação médica, garantindo que os pacientes recebam o cuidado especializado necessário.
Principais tipos de Esclerose Múltipla
Esclerose Múltipla Remitente Recorrente (EMRR) – Recebe esse nome por se manifestar através de surtos ao longo da vida do paciente. Esses surtos, em sua maioria, evoluem para remissão, ou seja, melhoram e o paciente volta ao seu estado prévio ao evento. Ao longo dos anos, principalmente sem tratamento específico e a depender das características da doença, o paciente pode recorrer e ter novos surtos.
Esclerose Múltipla Primariamente Progressiva (EMPP) – tem uma evolução progressiva desde o início dos seus sintomas. Ao contrário da EMRR, que apresenta surtos recorrentes, nessa forma eles seriam menos frequentes. Na EMPP, o paciente pode apresentar um primeiro surto e, a partir de então, ocorrer uma piora progressiva por um intervalo mínimo de 12 meses, caracterizando a progressão.
*Com informações da Secretaria de Saúde do Distrito Federal