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Há 18 anos, oficina de mosaico oferece benefícios terapêuticos e renda no Caps II de Riacho Fundo

O preconceito e a exclusão social são os maiores problemas encontrados por um paciente em tratamento de saúde mental. Isso é o que afirma Emanuel Oliveira, 66 anos, que há seis meses é “acolhido” pela equipe multiprofissional do Centro de Atenção Psicossocial II (Caps II) de Riacho Fundo.

Acolhimento também é a palavra que ele utiliza para definir a relação construída com os amigos que encontra na unidade destinada ao atendimento de pessoas com sofrimento mental grave, incluindo aquele decorrente do uso de álcool e outras drogas, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial. “Só em pensar que eu posso vir pra cá, participar das atividades, encontrar com essas pessoas… Isso já me transforma! Tem vezes que a gente vem mais pra receber um abraço, um carinho. Aqui a gente se sente em família”, relata Emanuel.

Ele e cerca de outros 30 pacientes participam da oficina de mosaico oferecida há 18 anos no Caps II de Riacho Fundo, que é uma das 18 unidades de todas as modalidades distribuídos pelas Regiões de Saúde do DF. São dois encontros semanais – às terças-feiras, de 14h às 17h, e às sextas-feiras, de 9h às 11h30. Ao longo de todo esse período, já foram mais de dois mil beneficiados pela atividade. A arte decorativa que consiste em criar figuras com pequenos fragmentos de materiais, além de oferecer benefícios terapêuticos, favorece também a geração de renda e o incentivo ao mercado de trabalho.

Ressignificação

As atividades tiveram início em maio de 2006, em meio ao ímpeto da reforma psiquiátrica (Lei nº 10.216/2001) e da subsequente criação dos Caps em todo o país. A técnica em enfermagem Cássia Maria, que atua há 22 anos no Caps II de Riacho Fundo e coordena as atividades do grupo de artesanato desde a sua proposição, conta que o projeto levou mais de um ano para ser implementado. A busca por materiais e ferramentas que pudessem ser adquiridos e manuseados pelos pacientes da unidade foi cuidadosa.

O grupo encontrou nos lixos e nos restos de construção a matéria prima para o exercício artístico e a inspiração para o bem-estar psicossocial. “Quando vem o transtorno mental, um dos primeiros sinais é o isolamento. Às vezes você sente-se como um ‘lixo’. A oficina de mosaico começou desta raiz: daquilo que parecia lixo, a transformação em arte”, explica.
Confeccionadas a partir de pedaços de madeira, cacos de azulejo, cola e rejunte, as peças expostas em eventos e feiras de artesanato do Distrito Federal encantam pela riqueza de detalhes e pela beleza impressionante. Dezenas de unidades são adquiridas ou encomendadas por apreciadores em cada uma das ocasiões. Muitos dos pacientes ingressaram no grupo sem perspectiva de emprego e hoje obtém renda do artesanato que aprenderam a produzir na oficina.

Protagonismo

Após determinado estágio da formação, os participantes são orientados à obtenção da Carteira Nacional do Artesão, concedida pela Secretaria de Turismo do DF (Setur). O protagonismo que é vislumbrado da produção da própria arte e da obtenção do retorno financeiro (uma forma de anuência social) também serve de combustível para a terapia. “O tratamento não é só resultado de remédio. A verdadeira melhora está nisto aqui: em mostrar pra si mesmo que você é capaz de criar alguma coisa”, enuncia Emanuel Oliveira, que além de autor é um prestigiado comerciante das obras dos colegas.

Os Caps são serviços especializados de saúde mental de caráter aberto e comunitário, ou seja, inseridos na comunidade e que funcionam em regime de porta aberta, sem necessidade de agendamento prévio ou encaminhamento para ser acolhido no serviço. As atividades podem ser coletivas ou individuais. Após acolhimento inicial e avaliação da equipe, o cuidado nesses espaços é desenvolvido por meio de Projeto Terapêutico Singular (PTS), que envolve equipe, usuário e família. O cidadão deve procurar, prioritariamente, o Caps de sua região (veja locais de atendimento).

Fonte: Secretaria de Saúde do Distrito Federal

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