Distrito FederalPais denunciam negligência médica após morte de recém-nascida em hospital do DF

Pais denunciam negligência médica após morte de recém-nascida em hospital do DF

Uma família do Distrito Federal acusa o Hospital Brasília de negligência médica após a morte da recém-nascida Ana Raquel, que faleceu com apenas 33 horas de vida. Os pais alegam que houve demora na realização de exames e retirada da dieta zero sem explicação, fatores que, segundo eles, podem ter contribuído para o falecimento da bebê.

A professora Lia de Aquino e o músico Paulo Guimarães afirmam que a filha nasceu no dia 21 de junho de 2024 sem complicações aparentes, apesar de ter sido diagnosticada previamente com Síndrome de Cimitarra, uma condição rara que afeta a circulação venosa pulmonar. No entanto, segundo os pais, decisões médicas controversas e a demora no atendimento comprometeram a evolução do quadro clínico da criança.

Falhas no atendimento

Inicialmente, a equipe médica determinou que Ana Raquel não fosse alimentada até a realização de uma angiotomografia. Porém, posteriormente, uma nutricionista liberou a administração de leite materno e fórmula por sonda. A bebê, que estava na UTI Neonatal para monitoramento, recebeu o líquido às 18h15 do dia 22 de junho.

Pouco depois, segundo relato da família, Ana Raquel começou a chorar de forma intensa e contínua. O pai solicitou ajuda da equipe de enfermagem, mas recebeu a informação de que se tratava apenas de gases ou manha da criança. Uma massagem foi realizada para acalmá-la, e o choro cessou momentaneamente. No entanto, assim que a enfermeira saiu da sala, a bebê voltou a demonstrar desconforto.

Preocupado, Paulo solicitou novamente a presença da equipe médica, e foi informado de que a enfermeira chamaria a médica de plantão. No entanto, segundo ele, a filha permaneceu chorando por mais de 30 minutos sem receber assistência.

Relato da mãe

Lia, que ainda se recuperava da cesariana em outro quarto, recebeu um áudio do marido registrando o choro da bebê e decidiu ir até a UTI Neonatal. Ao chegar, encontrou Ana Raquel com os olhos abertos, mas, ao vê-la, a recém-nascida fechou os olhos e suas unhas estavam escurecidas – um possível indicativo de falta de oxigenação.

“Quando entrei, vi minha filha já sem forças. Peguei na mãozinha dela e percebi que suas unhas estavam pretas. Meu marido estava sozinho, sem ninguém para ajudá-lo”, relatou Lia.

Diante da gravidade da situação, a mãe buscou atendimento imediato. “Saí desesperada chamando a enfermeira e pedindo para que ela fosse ver a minha filha, porque sua saturação estava caindo. A profissional me olhou sem reação e perguntou o que estava acontecendo. Eu insisti para que ela fosse ver minha filha imediatamente”, afirmou.

A equipe médica só teria reagido à gravidade do caso cerca de 40 minutos depois da primeira solicitação do pai. Na tentativa de reverter o quadro, foram realizadas manobras de reanimação, como massagem cardíaca e oxigenação mecânica. No entanto, Ana Raquel não resistiu e faleceu na noite do dia 22 de junho. O laudo médico apontou choque cardiogênico e cardiopatia congênita complexa como causas da morte.

“Se a médica tivesse vindo logo no início, quando chamamos, talvez nossa filha tivesse tido uma chance”, lamentou Paulo.

Relatório médico indicava risco

Um relatório médico do dia 22 de junho apontava que Ana Raquel apresentava risco de broncoaspiração, uma condição que pode comprometer a respiração, além de hipoxemia, caracterizada pela baixa oxigenação no sangue arterial. Apesar disso, a bebê não demonstrava sinais aparentes de desconforto respiratório e permaneceu em ar ambiente.

Após a confirmação da morte, a mãe relatou que não recebeu suporte psicológico ou atendimento de um assistente social no hospital. Diante do ocorrido, ela optou por deixar a unidade o mais rápido possível para organizar o sepultamento da filha.

Diagnóstico durante o pré-natal

Durante o acompanhamento da gravidez, Lia foi informada de que sua filha possuía dextrocardia, uma condição em que o coração se posiciona no lado direito do peito. Essa alteração congênita pode impactar o funcionamento do órgão e, em alguns casos, exigir cirurgia corretiva.

Inicialmente, o parto estava programado para ocorrer na Maternidade Brasília, mas foi transferido para o Hospital Brasília sob a justificativa de que a unidade possuía uma estrutura de UTI Neonatal mais adequada ao quadro da bebê, segundo a família.

Logo após o nascimento, registros médicos apontavam que Ana Raquel respondeu bem às primeiras intervenções. O prontuário indicava que a saturação da bebê apresentou melhora após um ciclo de ventilação com pressão positiva.

Processo contra o hospital

Os pais da recém-nascida ingressaram com uma ação judicial na 7ª Vara Cível de Brasília, solicitando uma indenização de R$ 500 mil por danos morais e materiais. No processo, alegam que houve negligência médica no atendimento prestado pelo hospital.

Em resposta, o Hospital Brasília afirmou que a bebê “não suportou a transição da circulação fetal para a circulação sanguínea extrauterina e sofreu uma parada cardíaca irreversível”. Em nota enviada a unidade lamentou o ocorrido e destacou que o quadro clínico da recém-nascida já era considerado grave desde o pré-natal.

O hospital também declarou estar à disposição da família e das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos necessários sobre o caso.

 

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