Morta no DF: TCC de Pedrolina tratou da violência contra mulher negra

Morta no DF: TCC de Pedrolina tratou da violência contra mulher negra

Um dia após Pedrolina Silva (foto em destaque), 50 anos, ser encontrada morta em um matagal às margens da L4 Sul, vizinhos e amigos ainda tentam entender tamanha crueldade. Até agora, nenhum suspeito foi preso. Uma colega de faculdade chamou atenção para o fato de a vítima ter tratado sobre a violência contra a mulher negra no trabalho final do curso (TCC) de serviço social na Universidade Católica de Brasília.

Metrópoles esteve no endereço onde a auxiliar de serviços gerais morava havia cerca de três anos, na Quadra 3 do Paranoá Parque. O apartamento da vítima, no quarto andar, está vazio. Na porta, trancada por grade, há um tapete com a palavra inglesa welcome (bem-vindo, em português). As janelas estão fechadas. Após a notícia da tragédia, um familiar apareceu no local, mas os vizinhos não souberam dizer de quem se trata.

Os moradores do mesmo bloco de Pedrolina receberam a notícia com profunda tristeza. “Ficamos muito surpresos. Ela era amigável, trabalhadora. Pouco ficava na rua de conversa. Vivia só e não era de receber visitas. Saía todo dia cedo e voltava à noite. A rotina, pelo que nós percebíamos, se resumia a de casa para o trabalho e vice-versa”, disse Rosimar Lopes Coelho, 66, morador do segundo andar do prédio da vítima.

Outro vizinho, do bloco da frente, o vigia João Vargas Teixeira, 53, comentou que, na última semana, falou rapidamente com a auxiliar de serviços gerais enquanto ela saía de casa para ir ao mercado. “Todos se conhecem na região. Ela passou e eu estava na rua conversando. A Pedrolina me cumprimentou e logo voltou com as compras. Era uma mulher tranquila. Nunca a vimos em nenhuma confusão. Também queremos entender o que aconteceu com ela”, ressaltou.

Cunhada de Pedrolina, Ivanete de Sena Cavalcante, 47, disse que a família está muito triste. “Não estamos acreditando no que aconteceu. É um momento difícil”, ressaltou. Ela disse que os parentes vão nesta quarta-feira (04/09/2019) pela manhã ao Instituto Médico Legal (IML) liberar o corpo e que ainda não há informações sobre o sepultamento.

Pedrolina vivia o melhor momento da vida. Há dois meses, havia pegado as chaves do seu apartamento, no Paranoá Parque, e, no final de 2018, formou-se em serviço social pela Universidade Católica de Brasília. Funcionária de uma farmácia em Taguatinga Norte, alimentava muitos outros sonhos, que acabaram interrompidos de forma brutal.

O assistente social Cláudio Alves de Almeida, 48, conhecia Pedrolina há cerca de oito anos. Os dois cursaram juntos serviço social na Católica e se formaram no ano passado. Ao Metrópoles, ele, que tinha contato próximo com a vítima, disse que todos estão chocados com a morte da amiga.

“Conversávamos diariamente. O nosso grupo da faculdade nunca se afastou. O mais impressionante nisso tudo é que ocorreu com ela exatamente o tema que nós mostramos no nosso trabalho de conclusão de curso: ‘A violência contra a mulher negra no DF’. Assim que eu soube do desaparecimento, disponibilizei meu número para receber notícias sobre o paradeiro da Lina. Estávamos angustiados sem notícias e, infelizmente, recebemos a pior delas”, comentou.

Cláudio afirmou ainda que Pedrolina estava solteira e não se relacionava com ninguém atualmente. “Não sabemos o que pode ter motivado essa crueldade que fizeram com a nossa querida Lina. Acreditamos que, nesse caso, foi um bandido que encontrou naquele momento uma oportunidade. É ruim saber que essa violência existe e está tão próxima a nós”, destacou.

Ainda segundo Cláudio, a família está muito abalada. “Conversei com a dona Alice, mãe da Lina, por telefone, mas ela está desolada. Não conseguia falar. O filho que denunciou o desaparecimento da mãe no domingo mesmo também está procurando forças para seguir.” O assistente social descreveu a amiga como uma pessoa feliz e guerreira. “Tinha o coração enorme. Muito humana. Falar dela é fácil. Sempre preocupada com o bem-estar dos que a cercavam. Tinha uma maneira linda de levar a vida e sua alegria era contagiante. Já nós faz uma falta imensa”, acrescentou.

Ao tomar conhecimento da morte da amiga, Claunice entrou em choque. “De certa forma, me sinto culpada, porque, se eu não tivesse feito o convite, nada disso teria acontecido. Ela vivia o melhor momento, havia conquistado muitas coisas”, disse, emocionada. Pedrolina era separada e mãe de um homem de 30 anos, casado e morador de Ceilândia.

Corpo em matagal

A execução de Pedrolina ocorre no momento em que a cidade acompanha em choque os desdobramentos do caso do maníaco Marinésio Olinto, 41 anos, que confessou ter matado duas mulheres e é suspeito de ser o autor de outros homicídios.

No caso de Pedrolina, após as investigações, policiais tiveram acesso a imagens de câmeras de segurança que mostram um homem, às 9h43, correndo e subindo um barranco rumo ao ponto de ônibus onde ela estava. O criminoso agarra e imobiliza a auxiliar de serviços gerais. Ela tenta resistir, mas é rendida. Na sequência, o suspeito a arrasta para um matagal.

O corpo de Pedrolina foi encontrado de bruços, apenas de calcinha e com uma camiseta listrada manchada de sangue. Ainda não há confirmação se houve violência sexual.

Celular rastreado

Na manhã de terça-feira (03/09/2019), a cunhada de Pedrolina procurou a 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) para informar aos investigadores que havia conseguido rastrear o telefone dela. A localização indicava que o aparelho estava dentro do Lago Paranoá. De posse dessa informação, os agentes iniciaram as buscas na margem, onde localizaram a universitária sem vida e seminua. O caso é investigado pela 1ª DP (Asa Sul).

Nathalia Cardim

Metrópoles

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