Um estudo inovador realizado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) pode revolucionar a vida de mães que vivem com HIV. A pesquisa, liderada pelos professores Rafael Braga e Regina Rocco, indica que a transmissão vertical do HIV por meio do leite materno pode ser praticamente eliminada em mulheres que fazem uso contínuo da terapia antirretroviral (TARV) e apresentam carga viral indetectável.
A equipe analisou amostras de colostro de 13 mulheres vivendo com HIV e em tratamento com TARV. Os resultados, publicados na plataforma MedRxiv, mostraram que o vírus não foi detectado em 13 das 15 amostras analisadas. A única amostra com resultado positivo correspondia a uma participante que havia interrompido o tratamento durante a gestação.
“Esse achado é promissor e pode mudar a recomendação atual de não amamentar para essas mulheres”, afirma Rafael Braga, coordenador da pesquisa. “A amamentação é fundamental para o desenvolvimento infantil e pode trazer benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê.”
Desafios e perspectivas
Apesar dos resultados promissores, a pesquisa ainda enfrenta desafios. Um deles é a necessidade de desenvolver protocolos específicos para a análise do colostro, já que a viscosidade do líquido pode interferir nos testes. Outro desafio é a escassez de estudos sobre o tema, principalmente em países de baixa e média renda.
“A maioria dos estudos anteriores se concentrou em países com recursos limitados, onde o acesso à TARV e o acompanhamento pré-natal podem ser mais precários”, explica Regina Rocco. “No Brasil, temos a oportunidade de realizar um estudo de alta qualidade que pode contribuir para a mudança das diretrizes nacionais e internacionais.”
Impacto social e científico
A pesquisa da Unirio tem o potencial de transformar a vida de milhares de mulheres vivendo com HIV e seus filhos. Atualmente, essas mulheres são orientadas a não amamentar seus bebês por medo da transmissão do vírus. Essa recomendação, além de impactar a saúde infantil, pode gerar estigma e discriminação.
“A amamentação é um direito da mulher e do bebê”, afirma Raphaela Barbosa, graduanda em Medicina e integrante do projeto. “A proibição da amamentação para mulheres com HIV é uma medida que precisa ser revista, pois pode gerar consequências sociais e psicológicas negativas.”
Os resultados da pesquisa já chamaram a atenção do Ministério da Saúde, que manifestou interesse em ampliar o estudo para outras instituições. A equipe da Unirio espera que, com mais pesquisas e dados, seja possível mudar as diretrizes nacionais e garantir que todas as mulheres tenham o direito de amamentar seus filhos, independentemente do seu estado sorológico.
*Com informações da Agência Gov